A pirâmide oligárquica e seu grande espetáculo

13/04/2011 01:02

Acabou o trabalho, o leitor chega em casa, cumprimenta a mulher, os filhos, o cão.

Janta.
A seguir liga o computador e consulta Informação Incorrecta, óbvio.
Depois, farto de ler tantos disparates, desliga o pc e liga a televisão. E ai passa algumas horas, no sofá, com a mulher, os filhos e o cão.

Mas que faz o cão?
Dorme.
E porque dorme?
Porque é o único que se preocupa com o próprio cérebro.

O cão e a oligarquia


Explicação: enquanto o leitor estava no trabalho, o cão aprendeu a ligar o computador. Alguns problemas com omouse, sem dúvida "(mas nunca acaba a cauda deste rato?"), e pior ainda com o teclado. Mas se as patas forem grandes, há sempre a ponta da cauda que ajuda. 

O blog preferido do cão? Informação Incorrecta, óbvio.
Aí, o bicho encontrou este artigo. E gostou.

Quantas são as empresas que nos Estados Unidos controlam o que passa na televisão?
Resposta: seis.
E no resto do Mundo?
Resposta: poucas mais do que isso. E no resto do Mundo as produções americanas são muito bem difundidas.

Resumindo: é uma oligarquia. 
Diz Wikipedia:

Oligarquia  (do grego ολιγαρχία, de oligoi, poucos, e arche, governo).
As oligarquias são grupos sociais formados por aqueles que detêm o domínio da cultura, da política e da economia de um país, e que exercem esse domínio no atendimento de seus próprios interesses e em detrimento das necessidades das massas populares [...]
Oligarquias são grupos fechados e pequenos que detêm o controle do poder, geralmente formadas por familiares de grandes proprietários.

Isso mesmo. 
Os media são a representação duma oligarquia, onde poucos controlam a maioria do que é diariamente transmitido nos media.

Numa situação como esta, é claro que termos como "multi-opção" ou "multi-culturalismo" não fazem muito sentido.

 

Os 6 Grandes


Em 1983 havia 50 empresas que controlavam a maior parte dos meios de comunicação nos EUA, de acordo com Media Reform Information, hoje existem apenas seis grandes conglomerados de grandes media que detêm o poder em exclusivo.

A maioria das pessoas não para a pensar donde vêm as mensagens que consomem e quais os interesses que estes servem. Nos EUA, o cidadão comum vê 153 horas de televisão por mês, cerca de 5 horas por dia, fundidos num ópio mediático feito de tubos catódicos, ecrãs LCD, camuflagem eletrónica.

153 horas de televisão por mês: significa  quase uma semana em frente do ecrã, sem pausas. Uma semana na qual entregamos o nosso cérebro nas mãos dos outros.

Os 6 Grandes, as seis empresas que controlam este universo das comunicações, são:
Time Warner
Walt Disney
Viacom
News Corp
CBS
NBC

"Ah, tá bom" pode pensar o leitor, "Estas são coisas americanas, aqui é diferente".

Certeza?
No principio ou no fim de cada programa costuma aparecer o nome da empresa que produziu o que acabámos de ver ou à qual pertence o format (na prática, o programa original, retransmitido ou regravado sob licença). 
Tomem nota dos nomes, pois são sempre os mesmos.

Programas como A Roda da Sorte (Roda a Roda no Brasil), por exemplo, são format: o original era The Wheel of Fortune, da NBC (1975);  
Sabe mais do Que Um Miúdo de 10 Anos? (Você É mais Esperto que um Aluno da Quinta Série? no Brasil) é um format da Fox, cujo título original é Are You Smarter Than a 5th Grader?; 
Quem Quer Ser Milionário? (Who Wants to Be a Millionaire?) é um format da MGM (empresa à beira de passar para as mãos da News Corporation);  
Family Freud é um antigo format da ABC.

Mas não apenas concursos: série televisivas, filmes, rádio, jornais.
Clear Channel, conglomerado que controla mais de 100 estações rádio nos Estados Unidos, é outra empresa à beira de cair na orbita dos 6 Grandes.
E agora internet também: Google, por exemplo, na orbita da Time Warner e News Corp.

Eis a lista dos 6 Grandes com as companhia controladas (click para aumentar!):

Uma lista extensa, não é?
E há mais.
Os 6 Grandes, como vimos, formam uma oligarquia mediática, o que já é mal. Mas se houvesse mais do que isso?

Times Warner


No Conselho de Administração da Time Warner, por exemplo, encontramos as seguintes figuras:

Jim Barksdale faz também parte dos Conselhos de Administração da FedEx e da Sun Microsystems e foi nomeado pelo antigo Presidente George W. Bush qual responsável do President's Foreign Intelligence Advisory Board, cujo objectivo é informar o Presidente dos Estados Unidos acerca dos dados recolhidos por outras agências governativas de intelligence das actividades de contraespionagem.

William Pelham Barr, ex agente da CIA, ex assistente do Presidente Ronald Reagan e nomeado pelo antigo Presidente George W. Bush (ainda ele) conselheiro no Departamento de Justiça.

Frank J. Caufield, também presidente da National Venture Capital Association (a associação que representa os investidores privados em Washington), director do Fundo de Investimeno Russo nos Estados Unidos, da organização não governamental Refugees International e membro do famigerado Council on Foreing Relations.

Mathias Döpfner, entres cujas amizades encontramos Angela Merkel e Henry Kissinger.


Jessica P. Einhorn, ex directora do famigerado Council on Foreing Relations e antiga managerdo Banco Mundial.

Fred Hassan, ex farmacêutica Sandoz, ex Monsanto, actualmente presidente da Associação Internacional das Empresas Farmacêuticas. 

Walt Disney


Na Walt Disney encontramos

John E. Bryson, presidente da Boeing Company, presidente da W. M. Keck Foundation    (uma interessante instituição de caridade ligada à petrolífera Exxon Mobile) e co-director da Pacific Council on International Policy, subsidiaria do famigerado Council on Foreing Relations.

John S. Chen, também director do banco Wells Fargo, director da Câmara de Comercio dos Estados Unidos e membro do famigerado Council on Foreing Relations.

Monica Lozano, membro do President's Economic Recovery Advisory Board criado por Barack Obama e também conselheira do Governador Arnold Schwarzenegger na Comissão sobre a Economia do Séc. XXI. 

Fred H. Langhammer, director do Sinshei Bank. 

Steve Jobs, ele mesmo, o dono da Apple. 

Orin C. Smith, presidente na Nike. 

Sheryl Kara Sandberg, ex chefe do Departamento do Tesouro dos Estados Unidos

E seria possível continuar, mas a lista seria muito extensa e o resultado não mudaria: os 6 Grandes são geridos por pessoas que pouco ou nada tem a ver com o mundo do entretenimento e que, pelo contrário, demonstram um certo à vontade nas áreas da política, da economia, e que têm fortes relacionamentos com as principais corporações.

Na News Corporation de Rupert Murdoch, por exemplo, encontramos José María Aznar, ex Primeiro Ministro Espanhol, muito amigo de Silvio Berlusconi; ou Roger Ailes, colaborador de políticos quais Richard Nixon,Ronald Reagan, George H. W. Bush, Rudy Giuliani; Viet D. Dinh, o arquitecto do USA Patriot Act; Sir Roderick Ian Eddington, da JP Morgan (poderia faltar?); John Lawson Thornton ex Goldman Sachs,       

Na CBS encontramos Joseph Anthony Califano, Jr., ex Ministério da Saúde e Educação, William Sebastian Cohen, político e ex Secretário da Defesa com Clinton, e melhor parar aqui pois, como afirmado, a lista é muito comprida: nela não faltam homens dos bancos ou políticos em actividade, bem como gestores de empresas multinacionais de vários sectores ou nomes conhecidos como Rockfeller..

É normal encontrar pessoas de sucesso no topo de organizações de sucesso.
Talvez menos normal é encontrar pessoas que ainda desempenham papeis importantes em âmbito político o empresarial e que, ao mesmo tempo, decidem qual a orientação duma estação televisiva, duma rádio, dum diário.

É esta interconexão entre política, corporações e media que preocupa. Pois são estas as pessoas que influenciam, e de que forma, o que o leitor pode ver quando ligar a televisão, acompanhar os filhos ao cinema, comprar um jornal.

Não todas as televisões, não todos os filmes, não todos os jornais. Mas boa parte sim.

O que significará tudo isso?

Fonte: https://www.informacaoincorrecta.blogspot.com/