Orkut e Facebook são "prateleiras" para expor as mercadorias: Nós?

11/06/2011 01:54

Dizia Zygmunt Bauman, um dos mais ilustres sociólogos de sempre: 

Na sociedade do consumo que ninguém pode tornar-se um sujeito sem primeiro ser transformado em mercadoria, e ninguém pode manter segura a própria subjetividade sem ressuscitar, reviver e recuperar constantemente as capacidades que são solicitadas e atribuídas a um produto comercial.

Que significa isso? Não faço ideia, mas soa bem.
Gosto sobretudo da frase "ser transformado em mercadoria".

Consumismo, mercados, desregulamentação, liberalização: via das convenções sociais, via dos Estados-Nações; basta de fronteiras; acabam as tradições; via das regras que limitam. Nenhuma lei, escrita ou moral, deve travar o fluxo do dinheiro.

"Globalização" é a palavra símbolo. Porque somos todos iguais; não como indivíduos, mas enquanto mercadoria.

Pensamos nisso. Ao longo das nossas vidas lidamos com produtos que temos de escolher o mais rapidamente possível, na sequência duma necessidade ou dum capricho momentâneo. Dezenas de supermercados comprateleiras de mercadorias igual, cega com cores berrantes, frases de efeito, promoções e oportunidades únicas. Descontos.

Muitas vezes decidimos numa fração de segundo, sem pensar; mas por trás há milhares de milhões gastos emeses de trabalho apenas para propiciar um gesto irracional em favor dum produto em detrimento de outros. Até a disposição das prateleiras não é casual; até a disposição da mercadoria nas prateleiras é objecto de estudo.

Agora imagem um desses supermercados, um dos cómodos, com parqueamento gratuito, elevadores, e música de fundo. E tentem responder: qual é a mercadoria? Aquela que fica nas prateleiras ou aquela que empurra o carrinho?

Facebook. ou Orkut. Pensem nos social network e nas nossas reacções. 
Fazemos upload das nossas fotografias (as melhores, claro); oferecemos uma nossa descrição, que terá bem poucos defeitos; participamos nos jogos online e enviamos prendas para os amigos, porque somos generosos.

É a mesma coisa que faz um produto na prateleira. Uma fotografia bonita, uma palavra bonita, cores bonitos. Tudo é bonito na mercadoria, como no nosso perfil do social network. 
Tentamos ser únicos e inimitáveis. Em detrimento dos outros. A mesma coisa que faz um detergente.

Podemos interagir com os outros, mas apenas se aceitarmos expor a nossa mercadoria. Que somos nós.

É a cultura do aparecer que entra de forma definitiva no nosso computador e, consequentemente, na nossa casa. Não é suficiente um vestido de marca, não basta um carro último modelo: agora é altura de vender a nossa imagem, por-la na prateleira dos social network e esperar para que alguém decida comprar.

No caso de Linkedin, a comercialização é ainda mais clara, pois o assunto é o mercado do trabalho. E que é vendido ou adquirido num mercado? Mercadoria, óbvio.

Podemos pensar que afinal é normal: sempre foi assim e sempre será assim. Sempre houve pessoas que decidiram distinguir-se das outras e para fazer isso é preciso realçar as melhores qualidades.

Isso é verdade. Mas quem criou o termo "ambicioso" e porquê?
A grande diferença é que hoje todos temos de ser ambiciosos, é a sociedade que exige esta atitude. Então Facebook e Orkut tornam-se um fenómeno de massa e facturam milhões de Dólares. Com apenas um tipo de mercadoria: nós.

A única diferença é qual das mercadorias empurra o carrinho e qual observa a partir da prateleira.  

Fonte: https://www.informacaoincorrecta.blogspot.com/